O buraco da fechadura
Pelo buraco da fechadura
Vejo um mundo particular;
Vejo-o me olhar
Lançando-me uma voz de reprovação.
Vejo mulheres nuas,
Verdades cruas,
Gotejando o sangue das ruas
Na poça da impunidade,
Que transborda desafetos desajustados.
Do outro lado há o silêncio;
O silêncio da resignação,
De um mundo que aquieta-se
E ajoelha-se pedindo perdão
Por seus crimes hediondos.
Pelo buraco da fechadura
Apenas observo os falsos desmandos
Protejo minha identidade
E mantenho-me no anonimato;
Lá o mundo é estático;
Enquanto meus sonhos são errantes;
Vagam por dias até encontrarem-se
Ali parados, sem ação.
Dirijo minha atenção
Ao vazio do buraco da fechadura,
Que me engole numa ânsia voraz
Capaz de unir os dois lados:
Lá, um mundo imaginário,
Aqui, eu, ajoelhado.