O buraco da fechadura

Pelo buraco da fechadura

Vejo um mundo particular;

Vejo-o me olhar

Lançando-me uma voz de reprovação.

Vejo mulheres nuas,

Verdades cruas,

Gotejando o sangue das ruas

Na poça da impunidade,

Que transborda desafetos desajustados.

Do outro lado há o silêncio;

O silêncio da resignação,

De um mundo que aquieta-se

E ajoelha-se pedindo perdão

Por seus crimes hediondos.

Pelo buraco da fechadura

Apenas observo os falsos desmandos

Protejo minha identidade

E mantenho-me no anonimato;

Lá o mundo é estático;

Enquanto meus sonhos são errantes;

Vagam por dias até encontrarem-se

Ali parados, sem ação.

Dirijo minha atenção

Ao vazio do buraco da fechadura,

Que me engole numa ânsia voraz

Capaz de unir os dois lados:

Lá, um mundo imaginário,

Aqui, eu, ajoelhado.

Valter Pereira
Enviado por Valter Pereira em 19/01/2008
Código do texto: T823798
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