Sonho alado

Ela se encantou pelo jeito dele

meio atrapalhado,

mas às vezes determinado;

ajudou a curar algumas feridas,

cuidou de peito aberto

e foi se envolvendo...

Ele sempre foi meio perdido

ali parecia completo

mas metade ainda era vazio;

com o tempo ele foi se acostumando,

com ela era bom

ele parecia mais pleno,

destemido e admirado;

se descobriu um cara que não sabia ser capaz de ser

ele sabia que era por ela!

Com o tempo se viu mais forte,

e desde março,

suas asas haviam ganhado forma;

ele tinha medo,

mas ela sabia que ele podia voar;

e ela dizia isso ao seu ouvido

todos os dias antes de dormir...

Ele passou a acreditar

e cunhou um sonho alado

ele tinha planos

mas ela chorava em silêncio

ele só pensava na nova jornada

enquanto ela desmoronava por dentro

porque também queria voar

mas não sabia como...

Ele amanheceu mais forte

esboçou um passeio e voou pelo bosque

rindo ao vento que lhe beijava a face;

ele irradiava completude

nunca se vira tão pleno

e só pensava em voltar

para articular com ela o novo sonho

que se mostrava perfeito;

mas quando voltou pra casa,

não havia ninguém!

Apenas um bilhete no canto da sala...

ela decidiu sair por aí

queria andar, porque não podia voar aquele sonho;

o mundo dele caiu

não sabia o que fazer

chorou por muitos dias

e voava todas as tardes em busca do paradeiro dela...

nunca a encontrou...

Exausto, numa manhã fria de outono

arrancou as suas próprias asas...

Decidiu voltar ao solo,

errante,

e reencontrar sua essência...

Às vezes ele subia o monte mais alto

para relembrar dos voos que fazia

não, não queria voltar a voar como antes,

mas apenas alimentar na alma

os momentos plenos,

quando era capaz de ser mais,

muito mais do que achou um dia que poderia ser...