NÓS
EU
Sem pensar
Dei de ouvir folhas
A farfalhar meus sonhos
Estrelas no céu da boca
A brilhar ideias revoltosas
Coração feito bomba
A pulsar agitação
ELA
Não toquem no meu corpo
Não lhes dei permissão
Que o sol me moreneie
Que os olhos me molhem
Com o sal da minha ascendência
Farfalho minhas deficiências
No corpo ébano do meu berço
EU
Moro dentro de mim
Numa casa de João de Barro
Pinico minhas sementes
Com a verve dos despoemas
A epiderme dos meus sonhos
Tem os arrepios das águas nórdicas
Me despenteio
No espelho metafísico
ELA
Pari meus meninos
Num ninho de nambus
Pu-los numa cesta de vincos
No rio São Francisco
Daí fui a um riacho agnóstico
Que se negou a banhar-me
Por causa de minha pele
Badameco
Que meus nambus o sequem
Com a glote avoaçeira
NÓS
Mãos atadas ao pó da estrada
Avoando no cangote dos pica paus
Pergunto vamos pra onde
Ela diz pra lá das beiradas do sem fim
Onde há um caminho estreito
Cabe pouca gente
Mas estaremos livres da maldade