NÓS

EU

Sem pensar

Dei de ouvir folhas

A farfalhar meus sonhos

Estrelas no céu da boca

A brilhar ideias revoltosas

Coração feito bomba

A pulsar agitação

ELA

Não toquem no meu corpo

Não lhes dei permissão

Que o sol me moreneie

Que os olhos me molhem

Com o sal da minha ascendência

Farfalho minhas deficiências

No corpo ébano do meu berço

EU

Moro dentro de mim

Numa casa de João de Barro

Pinico minhas sementes

Com a verve dos despoemas

A epiderme dos meus sonhos

Tem os arrepios das águas nórdicas

Me despenteio

No espelho metafísico

ELA

Pari meus meninos

Num ninho de nambus

Pu-los numa cesta de vincos

No rio São Francisco

Daí fui a um riacho agnóstico

Que se negou a banhar-me

Por causa de minha pele

Badameco

Que meus nambus o sequem

Com a glote avoaçeira

NÓS

Mãos atadas ao pó da estrada

Avoando no cangote dos pica paus

Pergunto vamos pra onde

Ela diz pra lá das beiradas do sem fim

Onde há um caminho estreito

Cabe pouca gente

Mas estaremos livres da maldade

Matuto Versejador
Enviado por Matuto Versejador em 21/09/2024
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