[É a vida que segue...] (Dueto)


O dia amanhece
Há muitas estrelas no céu
Parece um amanhecer normal...

[Só que não!
Acredite,
É carnaval!

Até eu custo a acreditar
Mas, é carnaval
Fora de época
Em abril...

Quem diria?
Quem, um dia, no ontem
Pensaria em um carnaval em abril...

Pois é,
Um legado
Da Pandemia...

Folia
Adereços
Brilhos e “fantasias”

Vai que o povo gosta...
E, se a moda pega...
Teremos então
O Rio com dois
Carnavais!

Tá bom!
Fui longe na divagação...
Mas, ainda não descarto a ideia...

Tô fantasiando?
Sim, pois hoje é carnaval
Coloquei até fantasia na imaginação...

[Vou deixar
A imaginação
Fantasiar e Foliar...

Carnaval
Fantasia
Imaginação

Volto no tempo...

Ou o tempo
Desperta
em mim?

E, as recordações
Fluem...
E se aliam a elas
Reflexões...

Num aparente
Simples passeio e muitos pensares...
Coisas da imaginação? Não sei precisar...

N’agora
Me vem à mente
Como se um filme fosse...

Eu, caminhando
no centro do Rio de Janeiro,
precisamente, pela Cinelândia...

Passo em frente ao majestoso Theatro Municipal... e paro
E par'ele... fixamente olho...

Eu ali,
De suas escadarias
Admirada reparo, sua arquitetura...

[É de tirar o fôlego...

A imaginação segue (viaja... voeja)
E, de um jeito peculiar
Até verseja...

Ali, em seu magnífico
Palco...
Quantas vezes a arte
Imitou a vida...
Dando a ela
Musicalidade
E fantasia?

Ali, quantas vezes
A vida e o viver... de cad'um:
Numa mística peça no tempo e no mundo a terem... o vivo cenário

[E que personagem sou eu [nele]?

Sou muitas Julis
E, qu’interessante: só não sou... eu mesma
E ainda nos atos d'uma mesma peça... sou diversas
E sou muitas... e muitas.... e muitas
Ai! Já perdi a conta de quantas fui
E quantas sou...
E quantas outras serei...

Será que um dia
me permitirei ser... eu mesma?
Quem sabe?!

E continuando a olhar para aquele imponente teatro me fico a matutar:
Por que na realidade de meus atos, sim, na minha vida concreta... eu não vivo?
É triste pensar disto...
E assim pouca diferença há, pelo menos para mim, em estar num
... palco (surreal) ou no mundo (real)
Vivo duas dimensões
Simultaneamente...

Então sou uma mistura de Teatro Municipal e a Marquês de Sapucaí, sei lá!
Onde ponho sempre uma máscara... a estar n'um desfile de carnaval?!
Ah! Cenários tantos... em que neles me fantasio de muitas
E sou a atriz principal...

[E, se a vida uma peça fosse,
Qual a minha seria?

Um clássico ou uma folia?

Vivo
Vários papeis...
Papeis que se sobrepõe...
Só sou eu mesma
Quando durmo...
E não sonho...

E me vejo ali...
Naquele palco,
como se uma Sapucaí
Fosse...
Num “carnaval”,
em que me cubro de máscaras,
ou me faço de rainha da bateria de minha escola
E por qu'eu não me daria esta honra?
Pisar e sambar
Na avenida
Do tempo...

Juli... Juli Lima... e mais não sei quantos existe em mim
Quantas Julis sou?
Não sei...

Na avenida do tempo
O surdo marca meu compasso
Ecoando dentro de mim...

Ali,
Naquela avenida
Imaginária, eu e o Samba da Vida...

As tristezas...
As frustrações...
As decepções...
Não têm espaço nem vez...
Nesse palco só há lugar
Para alegria...

E a alma
Samba,
num bailado
Jamais coreografado...
Uma releitura
Da Morte do Cisne, talvez...

Surreal...
Sinto cada movimento...

[Fecham-se as cortinas...
Na Vida e na Arte...
Tudo continua...

Que farei, pois...?
Irei para a minha casa n’aquele final de tarde a ser também o final de meu ato?
Com lágrimas, silenciosas...
Despeço-me
Do Theatro Municipal...
Sob meus pés
A calçada ...

[Ainda vejo
A Cinelândia...

Aperto meus olhos
E os abro...
Suspiro profundamente...

Sinto
Um torpor
Como se eu
Despertasse
De um sonho...

Cá estou,
Sem fantasia
Diante de minha janela
E de um amanhecer outonal...

[Inspiro
E expiro...

E, hoje
É Carnaval!
Dos foliões, dos sambistas,
dos passistas, dos mestres -salas
e suas porta -bandeiras
Dos sambas -enredo
no gogó do povo...
E dos blocos
nas ruas...

E, eu vou para a Sapucaí?
Vou sambar... vou pular... vou brincar... vou curtir... vou viver
Mesmo sabendo que o carnaval também passará
 Talvez, eu não vá!
Mas...
É a vida que segue...






Juli Lima e “H”



















O Tempo que o Tempo tem - Acadêmicos de Santa Cruz 2007


















Frase

Folia de carnaval é sinônimo de alegria?


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