CALEIDOSCÓPIO
Fez-se negro e encarnado
O rio que corta a vida,
Vida que sangra nas sarjetas,
Vala de corpos amontoados,
Entulhados como se gado fossem.
Fez-se lilás e anil
Como o céu sem nuvens.
Nuvens como flor do algodão
Que faz teus trajes,
Vestes que cobrem tua nudez.
Fez-se amarelo e verde,
Como a pura relva
Em que te deitas, sob as árvores,
E descansas da jornada da vida,
Onde por alguns momentos
Tu possas ver apenas o negro
Do fundo de teus olhos.