"Magnífico!" "Majestoso!" "Surreal!"

O discurso enfeitado de geleia na beira da boca do conferencista.

"Que lindo! Brilha um azul-turquesa"

"Deve ser de amora”

“Jaboticaba"

"Uva"

“Framboesa"

"Parece que está avermelhando!”

A plateia se assanha.

"Sim, tem razão, parece que mudou de cor"

"Maçã"

"Morango"

“Pitanga"

“Seriguela"

"Percebam, está clareando!"

"Um amarelo-ouro!"

"Damasco!"

"Manga!"

"É a fuligem misturada ao sol"

"Sim, verdade, à sombra voltou a ser azul"

"Quando ele se vira pra janela fica amarelada!"

"Mas e o vermelho?"

"É quando ao meio termo, nem lá nem cá."

"Magnífico!"

"Majestoso!"

“Surreal!"

E o conferencista termina sua palestra sobre uma nova textura biodegradável de tinta renascentista.

-Aplausos de pé. Gritos! Urra!-

"Era de que mesmo que ele estava falando?"

"Não me lembro"

"Nem eu”

"Eu também não"

"Deve ser sobre algum material novo reciclável para as telas"

"Acredito que falava sobre pincéis"

"Magnífico!"

"Majestoso!"

"Surreal!"

- Mas me diga uma coisa, Vincent, era dia ou noite naquele retrato?

- Qual?

- A noite estrelada.

- Não me lembro, Tarsila, eu estava louco. Mas me tire uma dúvida: há proporção dos pés com o tamanho do nariz?

- Não.

- Magnífico.

- Obrigada.

E o conferencista passa ao lado, sorrindo, e se despede.

"Magnífico!"

"Majestoso!"

“Surreal!".