... hipóteses de seres poema
No sopé do monte,
o bragal de linho é agora vela branda de fragata
a desfolhar flores suaves nas crinas altivas das águas.
Estanco o passo,
em transparência pressentida,
nesta iniquidade do regresso a passos amplos
à meninice das coisas.
Inspecciono lupanares de verbos incontaminados,
gestos circulares nos rostos d’enfermidade.
Caminho o Sol azul-poente,
em contornos desprovidos de rua acrescida.
Na palidez sombria, perscruto-lhe a essência da voz,
ainda que tímida,
flagelada p’lo rumor silenciado da palavra.
Em cheiros densos de vinho mosto
uma brida suave e descendente envolve-te o rosto,
em ingenuidade suprema,
se as estrelas já não riscam a minha boca de luar.
No limiar duma fraga,
descanso-me harmonizada e, de novo, sou som,
magistral acorde de sigiloso fonema
a eclodir no assombro d’olhos juvenis e fervilhantes,
de areais extensos e constelações de vida.
Seara perecida, sempre vou dizendo:
Hoje, como ontem, na noite emudecida,
morreram ceifadas todas as hipóteses de seres poema.