... hipóteses de seres poema

No sopé do monte,

o bragal de linho é agora vela branda de fragata

a desfolhar flores suaves nas crinas altivas das águas.

Estanco o passo,

em transparência pressentida,

nesta iniquidade do regresso a passos amplos

à meninice das coisas.

Inspecciono lupanares de verbos incontaminados,

gestos circulares nos rostos d’enfermidade.

Caminho o Sol azul-poente,

em contornos desprovidos de rua acrescida.

Na palidez sombria, perscruto-lhe a essência da voz,

ainda que tímida,

flagelada p’lo rumor silenciado da palavra.

Em cheiros densos de vinho mosto

uma brida suave e descendente envolve-te o rosto,

em ingenuidade suprema,

se as estrelas já não riscam a minha boca de luar.

No limiar duma fraga,

descanso-me harmonizada e, de novo, sou som,

magistral acorde de sigiloso fonema

a eclodir no assombro d’olhos juvenis e fervilhantes,

de areais extensos e constelações de vida.

Seara perecida, sempre vou dizendo:

Hoje, como ontem, na noite emudecida,

morreram ceifadas todas as hipóteses de seres poema.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 05/11/2007
Código do texto: T724616
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