Jardim

Hoje, neste dia oscilante, nublado e chuvoso estou observar-me pelo “mágico olho” de fora para dentro. Recordo os dias em que a morte tocou as bordas da minha vida e que senti como se já não fizesse parte deste mundo. A morte intensamente me desejava e farejava como se a minha alma destilasse e cheirasse a sangue, almejando as gotas em uma taça como se fora degustar um vinho de duas décadas. Há um rio no submundo, cuja as águas em seu leito são compostas e provenientes das minhas lágrimas derramadas. Este rio foi batizado com o meu nome. E sou um ser comentado e conhecido entre as almas do submundo e pelos demônios do inferno, como alguém que conseguiu sair! Dando uma breve esperança para os atormentados.

Olho para o passado com os olhos voltados para o futuro, ironia, de fato! Todavia, foi a maneira que encontrei de dar sentido a minha existência, não me render é o lema! Após sentir a língua da senhora armada, me lambendo à pele, a querer mastigar-me e depois cuspir de isca aos vermes da terra molhada. Eu levantei! E sigo agarrando fortemente as minhas mãos à vida. Novas vestes costurei, uma nova armadura projetei usando o meu corpo como molde, esta armadura me contorna perfeitamente. Forjei as minhas armas, a minha espada, e estou de pronto para enfrentar qualquer batalha. Pensaram ter me vencido, já me cortaram, me retalharam, e até em uma fogueira me queimaram, mas ressurgi! Mais forte! Entre esses dois séculos.

E agora sigo a realizar um dos meus grandes sonhos. Um jardim! Onde poderão recolher-se aqueles seres que se desenvolvem no interior de um casulo, cumprindo a metamorfose. A natureza da transformação! E os pássaros poderão achar abrigo, alimento e voar livremente indo e vindo, sempre que quiserem... O vento terá liberdade para inquietar tudo que tiver vida, principalmente o meu espírito.