Liberdade!

Enquanto eu beiro as janelas feito um beija-flor, 
Não beijo quem nelas se debruçam. 
Mais pareço um vadio, um inveterado predador,
Por quem as presas, de tristeza, soluçam, 
E se nelas eu colho o dulcíssimo pólen da paixão, 
E nem assim lhes prometo um eterno pouso.
Prefiro o voo na indômita imensidão, 
Onde me liberto, voo, canto e louco… ouso…

E se me espanta o céu carregado, nevoento,
Busco numa das arregaladas janelas, 
O meu fugaz, temporário abrigo e alento,
Antes que me barrem as impeditivas tramelas... 
Antes que o preço desses meus voos de improviso,
Custem-me as formosas e emplumadas asas,
Antes que os bodoques exijam-me mais juízo, 
E tornem-me as possibilidades mais curtas e rasas.

E se me surpreendem as janelas, por dentro fechadas,
A impossibilitarem-me a fuga e guarida,
Aí eu voo entre as flores dos jardins das madrugadas,
Onde renovam-se as forças e a vida.
Mas se favorável forem-me as aparências destes céus, 
Afastar-me-ei dos visgos, das gaiolas,
E rasgarei da boemia os pudorosos véus, 
Pousando nos harmoniosos braços das sertanejas  violas.

Meus voos serão, por derradeiro, plenos em cantos… 
Por entre os mantos dos meus Santos, 
A superar prantos e quebrantos...
E serão tantos, por todos os cantos! 
Repletos a espalhar, s
eus simples,

Mas irresistíveis encantos.