Direito poético

Ele tem direitos.
Ela tem direitos.

Ele tem deveres.
Ela tem missões.

Pesam sobre os ombros
séculos de submissão e
escravidão.

Olhos oblíquos
Lágrimas Retas.
Afetos sinuosos.

A mão que tateia a alma.
A alma que scaneia o corpo.

Tanta informação.
Tanta geografia.
Tanta genética

Em equações enigmáticas.
Em variáveis suspeitas.
Inexatas.
Inequívocas.

Certas da total incerteza.
Mergulhadas em infinitos paradoxos.

A razão não comanda a emoção.
O inconsciente nos molda o perfil.
A história é contada pelos vencedores.

A emoção rebate no inconsciente
e se esvai no abismo das entranhas.

E o ser humano
demasiadamente humano
submerso em castas,
em hierarquias,
em rótulos,
indumentárias, estigmas,
cores, raças e religiões.

Etiquetas a indicar conteúdos.
Tabuletas a indicar o sub-reptício
E entabular estratégias de convivência
e uma possível sobrevivência.

Ele tem direitos.
Direito ao esquecimento.
Ela tem direito.
Direto a ter afetos.

Ele não consegue esquecer.
Ela não consegue amar.
E seguem esquecendo-se
na prateleira do vento
numa tarde de outono.

Passa uma folha
bailando diante de tudo.
Leve, livre e completamente
destinada a trazer frutos
para um futuro improvável.

Mas tudo o que quero
é ter direito a poesia.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/03/2018
Reeditado em 22/10/2018
Código do texto: T6293483
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