"GRANDES LÁBIOS"
Na beira-mar
da manhã
nevoenta
acariciei a saia
dos seus grandes lábios
surdos.
Com espanto, eles logo
ouviram:
— Pára, não é por aí.
Dentro de lenta
tarde
automóvel
apertei a seda
dos seus grandes lábios
cegos.
Pasmos, eles logo
enxergaram:
— Por que esse tesão todo?
Debaixo de um
noturno
chuveiro
toquei firme
os seus grandes lábios
mudos.
Em espasmos, eles logo
gritaram:
— A duração do desejo é a mesma da vida!...
(*) Do texto “Na Terceira Vez” de Fernando Achiamé.