Quatro heterônimos disputam o corpo de um poeta
Eu jamais fui a Lisboa
nem sei as águas do Tejo,
mas em sonho a gente voa
e o leme do meu manejo.
Posto assim não me atordoa
viajar no imaginário;
posso ver os campanários
e ouvir os sinos que soam.
E em meu sonho estou passando
pelas ruas centenárias
quando uma cena entre várias
vai aos poucos se aclarando:
Vejo uns homens discutindo
ao redor de um corpo morto...
Finado sim, mas sorrindo;
sinto um certo desconforto.
O passo lento eu retardo
e apuro o ouvido. – É Caieiro.
Um outro é Campos. Bernardo
parece ser um terceiro.
O quarto homem é Ricardo
e quem mais grita, agitado.
Mas qual o nome do fardo
aos seus pés depositado?
Só falta o nome do morto
e a razão de tal contenda.
Sou curioso, por senda,
mas tomo o rumo do porto...
“Levanta daí, Fernando!”
O grito, na noite, ecoa.
Acordo. O corpo suando
e ligo o nome a Pessoa!