Chove fino.
A lama da rua parece uma tela em movimento
a refletir insetos a voarem e tudo que há no alto,
a refletir o olhar da menina à janela fria,
sutilmente escura,
que busca, com os olhos ainda tépidos,
a própria imagem na inquietude da lama,
e contempla a vida em tons ferruginosos naquele estar pastoso,
 ri dos ensinamentos dos homens e dos deuses
(pois que tudo é lama neste glorioso passar),
e, com um espanto e ternura,
encontra a própria imagem enlaçada a um zumbi,
pois que tudo é miragem neste trêmulo reluzir,
 fecha a janela e dorme infinitamente.
 
...talvez para brincar em um quarto mínimo
com as tralhas de vaidade.
 
Ana Liss
Enviado por Ana Liss em 25/07/2016
Reeditado em 25/07/2016
Código do texto: T5708843
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