MEU FUNERAL - Poesia nº 33 do meu segundo livro "Internamente exposto"
Tanto é o aparato e o encanto,
Que deste manto fino e branco,
Neste cheiro de toscas flores;
Vêm lembranças dos amores,
Que eu tive na vida,
Em partes divididas;
O homem que habitava meu ser,
Mulher d’um oculto transparecer!
Sim, porque o verdadeiro eu,
Aquele que aqui não morreu,
Ainda em mim está presente
Observando toda essa gente...,
Que aqui estão..., mais para cochichar
Sem compaixão..., neste falso adorar
De participação..., do que se comover
Com a situação..., sem se arrepender!
E para melhorar a minha satisfação,
Para todos, só existe uma solução!
Deixar a vida à própria sorte,
Da inevitável dona "Morte"!
Escondendo-se, querendo ou não,
Ela um dia virá pegar na sua mão...
De humilde e honesto eles não tem nada,
Também estão com a passagem marcada.
Pela lei: Quem o mal faz, aqui sempre paga!
Lembrando que: no inferno não falta vaga...
Para o infinito do céu eu vou sim,
Não adianta jogar praga em mim!
Com divinos anjos eu estarei,
Mesmo que muito na vida errei.
Estrelas e luas
Dançando nuas,
A cintilar e rodopiar
Virão a me saudar!
Sei quem me amava ou odiava,
Só pela conversa que escutava.
Ficam as saudades para os camaradas
E o desprezo para os de caras lavadas!
Para os bons,
Deixo o desejo de uma longa vida!
Para os maus,
Deixo a carga de uma morte sofrida!
Hoje, a mortalha fria
Cobre a minha alegria
Que tento segurar,
Para não gargalhar
De toda essa palhaçada,
Nesta hora engraçada.
Muitas caras nojentas
E velas fedorentas,
Iluminando o frio caixão
Do defunto em exposição!
Vejo olhos e orelhas tortas
Bocas e bundas mortas...
Lágrimas nos narizes
Das velhas com varizes...
Crianças sem educação,
Pulando e sujando o chão...
Até cachorro apareceu,
Para ver quem morreu!
Se o funeral eu escolher pudesse,
Assim eu gostaria que se fizesse:
Apenas quero eu dentro de mim,
O puro perfume da flor do jasmim!
Não me joguem pedras nem barro,
Pois, não sou um vaso e nem jarro...
Em uma sala iluminada me reservem,
Que no álcool vocês me conservem...
Quero que bebam e dancem até a exaustão,
Ao som de rock, de jazz e blues em profusão.
Assim os papa defuntos chorões,
Teriam seus motivos e emoções,
Para comentar um funeral exemplar...
Talvez ficassem alguns a contemplar,
Com muita razão e, até curiosidade;
O que fosse ser a minha indignidade,
Ao ser só lúgubre ante algumas falsidades,
De quem ali, nunca me aceitou de verdade!
Eduardo Eugênio Batista
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