Preciosa e curvilínea lâmina
que corta lentamente
extrai sangue e confissões.

Das palavras escorrem os sentimentos
lânguidos ou raivosos
Do sangue escorre a vida
vermelha e morna.

Preciosa e curvilínea
Contorna corpos e almas
E retalha e incandesce
a dor de não se pertencer.

Se a morte é apenas um corte
a faca faz parte do ritual
de se romper,
de se separar,
de se divorciar...
O corpo quente da alma fria.
A alma vazia do corpo repleto de desertos.
Ou de palavras sem sentido.

A faca corta os alimentos.
Prepara a sobrevivência de corpos.
Prepara a vingança de ódios.
Prepara a carne para consumo.

Corta lentamente.
Como se fosse uma arte.
Com a precisão de um samurai.
Com a verdade rápida da um hai cai.

Não posso molhar-me na chuva
Essas lágrimas que cortam
meu semblante.
Não posso embeber desse líquido
tanta tristeza sólida...
ácida e explosiva
guardada delicadamente
a espera de um estopim.


Você tem suas razões e
desrazões.
Aborrecimentos e angústias.
Outros tem a faca e a vontade
de cortar o mundo.
Decepar a dor ou o algoz.

Nos gumes da faca
há o lado bom e o lado mau.
há o inesperado.
há a traição ou a defesa
há a rendição ou a guerra.

Escolha um lado.
Não se divida.
Vá inteiro.
Ainda que todos sejam
divididos, fendidos e
rachados 
por facetas.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/02/2016
Reeditado em 29/02/2016
Código do texto: T5559598
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