Ela se escondeu...

Fugiu das mãos ou brincou de se esconder,

Foi pelo tempo paralisado, ato condensado;

Ocultada pelas paredes para ninguém ver,

Foi pelo dissabor cultivado, estereotipado...

Visível diante do espelho, depois guardado,

Talvez, a lágrima que finalmente a acolheu;

Viajou mundos distantes, o pobre ser alado,

Viu cores novas, faces recompostas, sofreu...

A cada hora concedida, cada dor concebida,

Na alma calejada, tatuada, perfume de flores;

Eram as damas da noite, embranquecidas,

Pálidas pétalas, que caiam entre os licores...

Fugiu das mãos, e se escondeu no coração,

Pensou que ninguém a via, e ali adormeceu;

Não viu a noite, nem o dia, doce inspiração,

Não viu a lua azul, nem as estrelas no céu...

Não viu o triste poeta, que chorava sozinho,

Chamava-a de volta, suplicante versos havia;

Esperavam em algum lugar, afago, e carinho,

Mas apenas se via, uma escrivaninha vazia...