MORRI, MAS AINDA ESTOU AQUI! - Poesia nº 65 do meu primeiro livro "Em todos os sentidos"

Antes que a minha carne inteira apodreça,

Eu tomo um gole de loucura na minha taça,

E trovas a meia morte, faço!

O pecado que me mate, mas não amanheça

Na cova que me jogou a ilusão da desgraça,

A dar-me no escuro um abraço!

Agora mesmo, a nenhum som eu cá escuto,

Na fria sombra que encapa o meu leito sujo,

Igual roupa cerimoniosa.

E combato a todos, por ganhar o injusto luto,

Fadado a arrastar-me na terra, feito caramujo

De corcunda pavorosa!

Ai de mim! Que assim no ermo, sou o alguém,

Quando se é na passagem viva, um morto vivo.

Morri, mas aqui ainda estou!

Não me quero um humano, podre de ninguém;

Se fosse mal que me fizeste, dormirias comigo,

No pouco do que me restou!

Ria e chore das horas que sobram no teu mundo;

Mas, se tu entregar-se, no temor do passamento,

Roerei teus olhos de agonia!

Fui e, sou tudo! Quem aqui não é um vagabundo?

A inveja comeu tua própria língua por julgamento,

Foi praga que te roguei neste dia!

Venha pro meu lastimoso esquife, alma zombeteira!

Aonde pensas que vai? Salvar-se com esse Deus?

Engana-se, cara amiga vida!

De ti, comi, cuspi, arreganhei-lhe e te gozei inteira;

Porque na falsa carne que me veste, dizes adeus?

Ah, és bem tu que é sofrida!

Eduardo Eugênio Batista

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Setedados
Enviado por Setedados em 26/07/2015
Código do texto: T5324301
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