NAQUELE SONHO
Naquele sonho
As estrelas caiam sobre a terra
Como pingos de chuva
E enchia de prata as ruas.
Os amantes brincaram de ciranda
Até à madrugada...
Enquanto os moribundos prateavam seus caixões
Acreditando que quando as estrelas evaporassem
Eles seriam levados juntos para o céu.
Pela manhã o céu se abriu
E o sol choveu feito ouro
E as casas ficaram douradas
E as crianças adoraram
E cantavam em coro:
“Senhora dona Cândida
Coberta de ouro e prata
Descubra seu rosto
Quero ver a sua cara...”
Até que um estrondoso trovão
Fez desabar o céu
E um imenso manto azul
Suspenso em brancos balões de nuvens
Cobriu o mundo.
Fez-se um silêncio ensurdecedor
E o imenso manto azul
Pouco a pouco recolheu
Toda a prata e todo o ouro
Subindo de volta ao céu.
E aos poucos o mundo retomou sua rotina
Cheio de buzinas, fuligens de automóveis,
Medos, mentiras, tecnologias...
E nunca mais se ouviu as crianças cantarem:
“Senhora dona Cândida
Coberta de ouro e prata
Descubra seu rosto
Quero ver a sua cara...”
Restaram os furtivos encontros dos amantes
E os moribundos a virarem estrelas...