CARDENINHO DE CONVERSAS
repetições ferem-me as espáduas
e desembalo em geografias.
salto como se asas fossem arco-íris,
nesgas coloridas de luz ligando montanhas.
mal alcanço um pico e toco o outro e
quando penso-me no céu já estou no sopé,
lambendo pústula aberta
de voos ilusórios do amor,
que se escorrega nos vasos
condutores de adrenalina.
amor que pesponta delírios num
peito onde arriei palavras com a tinta
da boca...
ai, que ainda houve a
presença d' alma ditando rebuscados
palavreados para dar mais emoção...
ficou apenas o gosto
dos poros ungindo feridas...
percebes essa nova montanha que escalo,
despida de orquídeas e veludo esmeralda?
[tomaram forma de pássaros... voaram].
sinto nos pés a nudez das rochas, cinzas e frias...
já estou pela metade
e o cume está tão alto!
sinto a quentura das letras
sangrando nas mãos
e as repetições chicoteiam a costa fazendo-me subir
cada vez mais rápido,
e já começo a ouvir,
entre as escarpas,
o canto de um verde pássaro...