AMOR À PRIMEIRA VISTA
O rapaz estava sentado num sofá,
ao lado de uns senhores
que estavam
em profundo silêncio,
a pensar na próxima viagem
que faria à praia,
com aquela grana
que ajuntou durante o ano
trabalhando na oficina
de seu pai.
De repente,
ele, que nunca a vira antes
pela cidade,
reparara quando ela chegou
no alpendre da casa,
o vento corria-lhe as mãos
pelos longos cabelos
e, silentemente,
alisava-lhe por inteiro,
como que quisesse gozar
em cada poro
de seu sensual corpo;
ao entrar em meio ao tumulto
das gentes que vieram
de todas as partes,
ele já estava a lhe amar
com os olhos,
contemplando
sua boca com batom escarlate,
seus peitos enrijecidos
na blusa apertada,
e suas pernas grossas
e bem delineadas
comprimindo-lhe a vulva,
e ele começou a imaginar
mil e uma quimeras
e fantasias
com ela:
passeando,
sorrindo,
abraçando,
beijando,
e fodendo aquela
boceta secreta.
Ela,
percebendo-lhe a intensidade
do cortejo,
continuou rondando
por perto,
e, vez em quando,
dava alguns sorrisos disfarçados,
e só lá Deus sabe
com que intenções,
mas certo é que
despertava
ainda mais a fome
que se acendia
no coração
e sob as calças do rapaz.
Resoluto, ele decidiu
ir até onde ela se encontrava,
saiu ao jardim,
colheu uma flor gris
e entrou novamente,
contornando os corpos
e os semblantes horrendos
pelo caminho,
juntos, enfim,
e essa era a chance que
ele esperava:
“Desculpa, mas você é linda”.
E estendendo a mão,
ofertou-lhe as flores
como preâmbulo de suas intenções.
“Obrigada”.
Ela pegou as flores,
caminhou até o caixão,
e depositou-as
aos pés do morto.
À noite,
encontraram-se,
fecharam as cortinas
do espetáculo,
e amaram-se em um quarto
escondido em um leito
na cidade de concretos,
e dizem que os gemidos
do êxtase,
de tão intensos,
quase despertaram
o já enterrado defunto.
Péricles Alves de Oliveira