A águia
As estrelas procuraram – audácia dos que vagam pela vida.
E as luzes indagaram – perspicácia autêntica de fantasmas que me perseguem. O meu olhar se confunde ao do alvorecer, e eu, que nada tenho senão o medo de amar os teus olhos, também me pus a procurar pela ave de rapina no seu ninho.
Talvez te encontre junto aos rochedos a renovar-se e desfazer-se da velha senhora.
Ou então proclame meu último suspiro de amor e lance tuas fotos joviais para que se percam no espaço, e o espaço e o tempo as devore, assim como a morte devora os dias, e os dias a carne, e a carne minha a tua, e a tua, o ocaso que se vai, se encolhe, chora, solta um findo gemido e se entrega à noite de estrelas perdidas.
Luzes mortas observam tua lápide, onde se vingou o cálice do amor e te escondestes de mim.
No entanto... Mulher de rapina, de doces segredos, de asseio e soturno falar... Quem és senão o meu pensamento mais lúgubre? Quem é aquela que vem voando pelas nuvens enlaçadas ora pelo rútilo brilho de seus amores, ora pelo anel que o sol e a luz do arco-íris lançaram em ti?
Que és que me lanças fora?
E lança de mim o que outro jamais te deu.
Eu sou a tua ausência que se faz presente nos ermos da solidão. Tu és o vagar perdido que se lança nas montanhas e nos rochedos, a fazer-se nova garota e fazer-me o soluçar de uma velha canção.
E quando se sente absoluta se perde em seu alar cimério, os meus olhos procuram e silenciam-se quando te vais, e me deixam no vagar profundo de um dia que parece jamais anoitecer.