O LAGARTO
Chegou-se como quem nada queria,
só se fazia presente pelo ruído na grade
e de repente irrompeu sereno no vidro peliculado.
Enxergava sua própria imagem refletida,
no estupor do enigma sem resposta
deitou-se apreciando toda a sua forma
Como quem desconfiasse de algo
passou a vasculhar com os olhos
o que quer que existisse do outro lado
Já não queria acreditar estar se vendo
e se enganando não ser ele poderia
refazer sua própria estrada escama por escama
Ergueu-se então altivo em plena luz do sol,
estufou o peito e disse com todo o poder
de sua própria imagem: estou aqui!
Vê-me por um todo, acredite que sou um sonho
enquanto perduro minha linguagem em cada traço
que este espelho sem alma reflete o ser transcendente!
Parou-se então cansado de si mesmo
pois por mais que buscasse qualquer outro fato
tudo que via remetia-lhe a um futuro passado do agora
Deixou então tudo pra trás sem ligar pro que viu
tinha ainda um mundo inteiro pra viver
e atirou-se sobre o verdejante abismo.