REVELAÇÕES
Acordo eu torpe, nesta infinita penitência,
Onde o meu pecado de sangue é mostrado,
Em delírios daqueles passados dias malditos...
Ainda que me perdoes a pobre consciência,
Está uma sombra acomodada ao meu lado,
Como um manto negro, sem rosto aos gritos...
Meu coração não mais existe, está petrificado;
Um angustiante lamento que me sai demente,
É a única vida em choro eterno, pelo meu fim...
Essa mágoa lenta come meu corpo já devorado,
Como se eu apodrecesse igual um vil indigente,
Abandonado e morto sem ser eu dentro de mim...
Oh! Senhor das desgraças, toma-me em sacrifício,
Leve minha carcaça imunda sem nenhum respeito,
Corte o grande mal retirando isso da minha cabeça...
Não me deixe aqui, feito esse morto vivo em suplício,
Atire-me em qualquer cova úmida e fria, a ser meu leito,
Retire minha vida, eu permito..., antes que eu enlouqueça...
Agora outra sombra chega, senta-se, grita e me dá pavor!
Parece que está querendo me avisar da vinda de alguém,
Escorrem suores gelados da minha face triste, condenada...
Quando ao longe eu observo uma procissão, trazendo um andor;
Agora bem perto, me apavorei ao ver uma feia imagem do além,
Era um corpo todo coberto por vermes, uma criatura amaldiçoada...
Em sua testa ele trazia uma tatuagem de um completo eclipse lunar,
E os seus negros olhos, comiam a vida como o nosso medo da morte,
As sombras seguidoras aos gemidos arriaram o tétrico andor devagar...
As duas sombras, cada uma do meu lado foram a ele me apresentar,
Não podia fugir, pois estava eu condenado pela maldade mais forte;
Ao estar frente a ele, abriu sua boca em gesto e começou a me sugar...
A aberração então para sempre,
Fez a minha alma abandonar,
Este meu corpo abominável...
E eu deste dia em diante,
Vivo uma vida aberrante...
Em revelações da minha mente,
Fiquei lá enclausurado a penar,
Pelo meu destino tão miserável!