NARCÓTICOS ANTAGÔNICOS
08.11.05.
Queria uma injeção que me tirasse o sono
Que me fizesse viajar a outro lugar
Que me tornasse de minha vida o dono
Que me vestisse com couraças
Que me causasse gargalhadas das recentes perdas
Queria um barbitúrico que me tirasse a fome
Que me fizesse rezar outra ladainha
Que me tornasse dessa guerra vencedor
Que me vestisse num brim sem bainha
Que me causasse esquecimento do atual lamento
Queria um gás lacrimogênio
Que me fizesse chorar duma só vez tudo que me resta chorar
Que me tornasse repentinamente sábio, gênio
Que me vestisse numa farda, fardão
Que me causasse de repente um inusitado gostar
Queria um veneno, um pó, um éter, um mascar
Que me fizesse grande sem nunca ter sido pequeno
Que me tornasse sóbrio em meu inebriar
Que me vestisse com uma nudez total e pura
Que me causasse vontade urgente de uma eterna aventura