MEU FUNERAL
Tanto é o aparato e o encanto,
Que deste manto fino e branco,
Neste cheiro de tôscas flores,
Vêm as lembranças dos amores
Que tive na vida,
Em parte dividida.
Mulher que habita o meu ser,
Homem que eu faço parecer.
Sim, porque o verdadeiro eu,
Aquele que aqui não morreu,
Ainda em mim está presente,
Observando toda essa gente,
Que aqui estão, mais para cochichar
Sem compaixão, neste falso adorar
De participação, do que se comover
Com a situação, sem se arrepender.
E para melhorar a minha satisfação...
Para todos só existe uma solução!
Deixar a vida a própria sorte
Da inevitável dona "Morte".
Escondendo-se, querendo ou não,
Ela um dia virá pegar na sua mão.
De humilde e honesto eles não tem nada,
Também estão com a passagem marcada.
Pela lei: Quem o mal faz aqui sempre paga!
Lembrando que: No inferno não falta vaga.
Para o infinito do céu eu vou sim,
Não adianta jogar praga em mim.
Com divinos anjos eu estarei,
Mesmo que muito na vida errei.
Estrelas e luas,
Dançando nuas,
A cintilar e rodopiar,
Virão a me saudar.
Sei quem me amava ou odiava,
Só pela conversa que escutava.
Ficam as saudades para os camaradas,
E o desprezo para os de caras lavadas.
Para os bons,
Deixo o desejo de uma longa vida.
Para os maus,
Deixo a carga de uma morte sofrida.
Hoje, a mortalha fria,
Cobre a minha alegria,
Que tento segurar,
Para não gargalhar
De toda essa palhaçada,
Nesta hora engraçada.
Muitas caras nojentas,
A ver velas fedorentas,
Iluminando o frio caixão,
Do defunto em exposição.
Vejo olhos e orelhas tortas,
Bôcas e bundas murchas.
Lágrimas e feios narizes
Das velhas com varizes.
Crianças sem educação...,
Pulando e sujando o chão.
Até cachorro apareceu,
Para ver quem morreu!
Eu apenas quero dentro de mim,
O puro perfume da flôr do jasmim.
Não me joguem pedras nem barro,
Pois não sou um vaso nem jarro...
Em uma sala iluminada me reservem,
Que no álcool vocês me conservem...
Quero que bebam e dancem até a exaustão,
Ao som de rock, jazz e blues em profusão.
Assim os papa defuntos chorões,
Não teriam motivos ou emoções,
Nem cadeiras para sentar...,
Só ficariam a contemplar,
Com muita razão e curiosidade,
Essa minha eterna indignidade
Por esta lúgubre e imensa falsidade,
De quem nunca me amou de verdade.