ESPÍRITOS OCULTOS
Do mal que me falem não lhe trago esta ira,
Nem sempre certeira em verdade e mentira...
Se o ser humano erra aqui na terra, já profana,
Não é digno de sua alma, que pronta te abandona.
Quem te vê ao longe em situação desonrosa,
Muito te condena por ser espinho e não rosa;
Se a flor que já nasceu e um dia morreu muito infeliz,
Não tinha brilho de cores em seu segredo que nada diz.
Nesse jardim de ceifas qual tu é vulnerável,
Ainda ficas um pouco por não ser miserável;
Aquele que em seu coração pisado usa de maldade,
No crime de purgamento morre sem a sua lealdade.
Aquela que se veste em nuvens cinzentas da morte,
Já traçou o destino dentro do corpo jogado a sorte;
São muitas expiações em delírios da louca e fingida existência,
Que na tua fraca carne é perfurada por garras sem clemência.
Vem em fogo nas entranhas, empunham a prata fria das espadas,
Ameaça do calafrio passamento na fome de presas amaldiçoadas,
Revelam-me no tempo que em volta me assiste a enraizar-me ventres,
A dor de mim é tristeza, no prazer que vejo em vivos olhos ardentes...
Tem uma veste negra e cheirando a mofo de tão antiga na história,
De pessoas que entre a vida e a morte nunca se ascendeu em glória,
O bem que te causa uma força usada por livramento,
É o mesmo mal que levas pra terra em sepultamento.
Usar a força divina em seu corpo a enganar um inocente,
Leva em sua testa, a marca da cruz invertida e penitente;
Não há lagrimas sentida que salve em perdão sua passagem,
Desta que te comeu os olhos infiéis, faça digna tua coragem.
O mais velho dos acompanhantes é o chaveiro da agonia,
Neste caminho que escolheu, leva-te pela trilha cega e fria,
Ah! Morte que me rasga em suplícios e dores de espera!
Agora sou espírito preso, e não me lembro quem eu era.
Tenho as mãos calosas da labuta amaldiçoada a livrar-me deste além,
Numa espera que nunca me acalma a tecer em pecado o que não vem,
Preso aos terríveis grilhões, sou abandonado na minha lastimosa morada,
E aqui fico sem o orgulho dos céus, rogando pela sina em cruz enterrada.
Do meu verdugo, o golpe de misericordia vem certeiro e triunfante,
Sangro lento desaguando o que me resta em corpo de vida distante,
Num fosso eu sou jogado, sinto nos meus dedos, musgos de decomposição,
São cadáveres amontoados, agora o cheiro da morte é meu ar nesta prisão...
Não enxergo quase nada, sou um mudo de sentimentos, ouço só a dor...
Meu corpo se desmanchando no escuro, tragando-me impuro de louvor.
Vou sumindo das criaturas que saem de mim feito às sombras do adeus...
Já não me sinto, no meu último sopro de vida sem a despedida de Deus.