MORRI MAS, AINDA ESTOU AQUI!

Antes que minha carne inteira apodreça,

Tomo um gole de loucura na minha taça,

Trova da meia morte eu faço...

O pecado que me turve mas, não amanheça,

Na cova que me jogou a ilusão da desgraça,

A dar-me no escuro um abraço.

Pois nenhum som eu daqui, jamais escuto,

Na fria sombra que rodeia meu corpo sujo,

Como uma negra roupa sebosa.

Quem de nada foi o eu, a ganhar esse luto...,

Arrasto-me na lama terra feito um caramujo,

Lesma de corcunda horrorosa.

Ai de mim, que tanto sou do nada um alguém!

Mesmo ainda na passagem desse morto vivo,

Morri mas, eu ainda estou aqui...

Não me quero então, humano cheiro de ninguém;

Mas, se o mal tu me fizeste? Eu dormirei contigo,

Feito espectro colo-me em ti.

Ria e chore das horas que te resta no avaro mundo,

E se tu se entregar na fraqueza deste passamento...

Devorarei teus olhos de agonia.

Fui e sou tudo, mas quem aqui, não é um vagabundo?

A inveja comeu tua própria língua até em pensamento,

Foi praga que te roguei neste dia.

Venha pro meu lastimoso esquife alma zombeteira...

Aonde pensa que vai? Salvar-se nas mãos de Deus?

Engana-se minha amiga vida...

De ti eu comi, arreganhei-lhe, cuspi e te gozei inteira,

Como então nesta falsa carne que me veste diz adeus?

Ah..., és bem tu que é sofrida!

Setedados
Enviado por Setedados em 28/02/2011
Código do texto: T2819857
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.