Controvérsia

A paixão andava pelas esquinas

Achando tudo muito monótono

As pessoas muito ocupadas...

Estava completamente abandonada.

O amor cabisbaixo encontrou-a num esbarrão

Sentaram num banco de praça

Conversaram por um tempo

Reclamaram da situação.

- Ninguém mais tem tempo pra se apaixonar...

- Eu que o diga! Amar então nem pensar!

Entre lamúrias e muxoxos avistaram um ser

Observando o banho de pássaros num chafariz

Aproximaram-se cuidadosos

Olharam bem para o ser que escrevia em um papel

A alegria de ambos foi enorme,

Mas o Amor... este se sentia profundamente feliz

- A humanidade está salva! Gritava, afoita, a paixão

- O Amor, mais sereno, procurava agir com razão

Estavam por tanto tempo esquecidos

Que tinham perdido o jeito.

O Amor então propôs que a paixão fosse primeiro

Preparasse o caminho naquele ser perfeito

Dito e feito.

O ser logo foi tocado e passou a observar tudo a seu lado

O que antes eram palavras no papel, passou a ser poesia

E com o coração aos pulos, o ser sempre escrevia

Completado o tempo da paixão,

Aos poucos o peito adormecia.

Um tempo, então, chegou de profunda calmaria

Quem não soubesse, podia pensar que a vida morria

Mas que nada! Ledo engano dos ingênuos afobados

O que ali acontecia já estava planejado

Dentro do peito do ser, um casulo se formou

Nele, a vida se completava sem pressa, sem temor

No tempo determinado o coração desabrochou

E a poesia harmonizou-se em sinfonia

Mas uma questão infelizmente restou

Amor e Paixão não chegam a um acordo:

O Amor permanece por que o poeta existe?

Ou o poeta existe por que o Amor permanece?

VALERIA DA SILVA
Enviado por VALERIA DA SILVA em 29/12/2010
Reeditado em 19/01/2021
Código do texto: T2697351
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