Controvérsia
A paixão andava pelas esquinas
Achando tudo muito monótono
As pessoas muito ocupadas...
Estava completamente abandonada.
O amor cabisbaixo encontrou-a num esbarrão
Sentaram num banco de praça
Conversaram por um tempo
Reclamaram da situação.
- Ninguém mais tem tempo pra se apaixonar...
- Eu que o diga! Amar então nem pensar!
Entre lamúrias e muxoxos avistaram um ser
Observando o banho de pássaros num chafariz
Aproximaram-se cuidadosos
Olharam bem para o ser que escrevia em um papel
A alegria de ambos foi enorme,
Mas o Amor... este se sentia profundamente feliz
- A humanidade está salva! Gritava, afoita, a paixão
- O Amor, mais sereno, procurava agir com razão
Estavam por tanto tempo esquecidos
Que tinham perdido o jeito.
O Amor então propôs que a paixão fosse primeiro
Preparasse o caminho naquele ser perfeito
Dito e feito.
O ser logo foi tocado e passou a observar tudo a seu lado
O que antes eram palavras no papel, passou a ser poesia
E com o coração aos pulos, o ser sempre escrevia
Completado o tempo da paixão,
Aos poucos o peito adormecia.
Um tempo, então, chegou de profunda calmaria
Quem não soubesse, podia pensar que a vida morria
Mas que nada! Ledo engano dos ingênuos afobados
O que ali acontecia já estava planejado
Dentro do peito do ser, um casulo se formou
Nele, a vida se completava sem pressa, sem temor
No tempo determinado o coração desabrochou
E a poesia harmonizou-se em sinfonia
Mas uma questão infelizmente restou
Amor e Paixão não chegam a um acordo:
O Amor permanece por que o poeta existe?
Ou o poeta existe por que o Amor permanece?