MESTRE DAS ÁGUAS

Você me ensinou

a não temer as águas

Ensinou-me a mergulhar no mar

nos rios e lagos

Mostrou-me como aproveitar

as ondas para velejar

Mostrou-me como se deitar

sobre as calmarias

Incentivou-me a saltar

de cascatas, cachoeiras

e fios d'água

Incentivou-me a ser veloz

nas corredeiras

Fez-me conhecer o leito

a superfície e o meio

Fez-me esconder nas locas

tocas, conchas e cascos

Levou-me a tomar banho de chuva

miúda, garoa, graúda

Levou-me até nas nuvens

para massagear-me com gotículas

Alegrou-me com doce sereno

Brincou comigo em meio ao nevoeiro

A serração era nossa casinha

onde abríamos portas e janelas

para o sol entrar inteiro

Encheu-me de sabedoria

Mostrou-me os perigos das curvas

das pedras escondidas

das barrancas escorregadias

e das inundações das ruas

Descortinou minha mente

diante das termas e das águas frias

dos gelos polares e das altas montanhas

Criou em mim o desejo

de ir ao céu com a evaporação

num sonho molhado de ilusão

Nas lagoas de águas claras

ou em meio a recifes de corais

fez-me desistir do medo

apenas, disse-me:

"tenha respeito,

as águas, também, têm o direito

de serem o elemento

que inunda, enche, afoga e lava

mas que leva e sustenta a vida

sem cobrar nada"

Janete do Carmo
Enviado por Janete do Carmo em 30/08/2010
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