NADA DO QUE NÃO SOU...TUDO O QUE JÁ FUI
Sou pirata de um tempo sem naus nem caravelas
Minha espada não tem corte nem honra
Meus tesouros escondidos sem ter como achar
Sou pirata de um barco sem vela
Sou navio sem mar
Sou bailarina de um tempo sem música nem melodia
Minha sapatilha não tem equilíbrio nem dança
Minhas piruetas perdidas num passo sombrio
Sou bailarina sem pés
Sou dançarina sem brios
Sou pianista de um tempo sem composições nem partituras
Minha harmonia não tem notas nem ao menos som
Minhas criações mortas numa mente sem inspiração
Sou pianista sem mãos
Sou músico sem canção
Sou malabarista de um tempo sem circo nem lona
Minha alegria não tem risos nem satisfação
Minhas proezas vendidas para um futuro sem traços
Sou trapezista sem rede
Sou equilibrista sem passos
Sou o nada de um tempo sem vida nem morte
Minha ferida é apenas conseqüência da sorte
Meus sorrisos presos sem ter amor
Sou alma apagada
De uma saga gerada entre a morte e a dor
Sou aquele que espera sem saber se há tempo
Meu futuro não tem passado, meu passado é o vento
Minha estória perdida em qualquer lugar
Onde o maior Homem escondeu
E talvez nunca revelará
E quem serei eu?
E quem me será?
Escrito em 27 de abril de 1994.