Narciso incoerente
Não vou quedar-me a mirar-te
Lago insano
Nem rodear-te vou
Inclemente reflexo do meu não
Insolúvel questão do meu sim
Arrependido sim pra ti
Como naquela noite
Coito da alma seca e louca
Castas mentiras a mim ditas
Malditas noites
Sem lua nem Drácula
Esperados lamentos de eunuco
Espasmos de carne
Revoada de sangue
Fervente
Não vou quedar-me a mirar-te
Nem ouvir-te os rogos de iara
Neste convite infame
Neste mergulho insólito
Neste teu colo ingrato
Nesta face tua, de lago
A chamar-me, viciadamente
Ao encalço do olho
Não vou mirar-te
Inclemente lago
Desbotado verso de mim mesmo
Só vejo a mim em ti
Quando já não sou
Nem belo
Nem puro
Nem desejável.
Incoerente Narciso
Dor de carne abandonada
Gosto de quem foi
E não volta
À tona.