Retrato
Teu retrato me deixa solitário,
Olhando avaramente tua figura,
Ficando em teu lugar só a moldura,
Como se fosse um velho relicário.
Teu retrato me lembra vagamente
A ausência de sonhos, sofrimento,
A lágrima em surdina, a dor silente,
O medo de viver cada momento!
Teu retrato me faz descrer da sorte,
Dos mistérios da vida e sortilégios,
Que perturbam a alma ainda que forte,
Um resto de agonia sem remédio;
Teu retrato me torna inconsequente,
A sorrir e pensar em sobressalto:
Em vez de ser o amor entre os presentes,
Melhor seria o amor entre os retratos!