Retrato

Teu retrato me deixa solitário,

Olhando avaramente tua figura,

Ficando em teu lugar só a moldura,

Como se fosse um velho relicário.

Teu retrato me lembra vagamente

A ausência de sonhos, sofrimento,

A lágrima em surdina, a dor silente,

O medo de viver cada momento!

Teu retrato me faz descrer da sorte,

Dos mistérios da vida e sortilégios,

Que perturbam a alma ainda que forte,

Um resto de agonia sem remédio;

Teu retrato me torna inconsequente,

A sorrir e pensar em sobressalto:

Em vez de ser o amor entre os presentes,

Melhor seria o amor entre os retratos!

Abrantes Junior
Enviado por Abrantes Junior em 07/07/2009
Código do texto: T1686807
Classificação de conteúdo: seguro