TRANSE
TRANSE
Nascera chão.
Crescera com fome de tudo:
alimento, afeto, alegria...
andava como se fosse submergir
ou despir-se de si mesmo
para alcançar o outro lado da rua.
Carregava uma leve saudade do futuro
e uma ansiedade remota
por algo que não conhecia
-se não fosse muita ousadia: ser feliz.
Mas não será muito? Ser feliz é exceder!
E o transe onde agregam essas alucinações
guarda o segredo englutido entre o sonho e a certeza,
a vontade de permanecer nas sombras
e o medo de inventar.
Lá fora, rondam fantasmas loucos
à cata de tudo que medra a subclasse humana.
A flama que alimenta essas palavras abstratas
infiltra-se como um coágulo no sangue pedregoso.
...e ainda dizem que viver não dói.
Basilina Pereira