Tempo perdido
Nuvens comem vento.
Entardeces cotidiano abaixo
e escorres pelo leito insone
o corpo de rio cheio de braços
afluente sem termo.
E as multidões afoitas de imagens vespertinas
transbordam tuas avenidas em plena hora do rush.
E quem é que te sonha esta hora:
no meio da tarde engarrafada (?)
Quem interrompe o fluxo de teus desatinos
sedentos de mar
e te respira
fazendo sufocar
este mesmo ar que dilacera as coisas
O mesmo ar que
um dia ar-dia.
Este ar
que definha
como todo o resto
em sua prisão de tempo de-va-gar
ar que tardia.
Lembro de lembrar de ti
muitas horas depois,
do dia perdido
e da louça por lavar.
Debatias a política ou um suicídio qualquer
(que ainda se sonha muito apesar de tanto prédio);
bebias algo de inutilidade
e algum sexo eletrônico:
lodo câncrico banhando o tédio;
digitaste mil infâmias
por todos os cômodos da casa
empu-teceste
a madrugada
inteira
arfada.
E ainda estavas lá
encalhado num cruzamento qualquer
de ânsia de preamar
estacionado no fundo remoso d’um igarapé;
esperando na beira de um pensamento
o tempo que não recomeçará...