NO RASTRO DA SAUDADE (Dedicado ao Dia de Finados)
Na dança silenciosa dos dias,
a saudade pousa leve,
como uma borboleta de asas translúcidas,
não mais sombria,
mas vestida de tons dourados,
desenhada pelo entardecer.
O vazio, antes abismo,
agora é jardim,
onde memórias florescem
em cores vivas e delicadas –
cada pétala, um riso compartilhado,
um abraço guardado no tempo,
um olhar que ainda reluz,
como o brilho da aurora.
Passos que partiram deixaram pegadas douradas,
marcas de estrelas distantes,
ainda acesas, ainda nossas,
bordadas com fios de ouro,
histórias que o amor insiste em tecer,
mesmo nas despedidas.
Lágrimas, agora orvalho,
nutrem as flores dessa lembrança,
onde o tempo encontra refúgio,
onde os ecos do afeto sobrevivem
como perfume que o vento leva,
invisível e eterno.
E como pássaros que migram,
eles escolheram outros céus,
enquanto nós, ainda com pés no chão,
guardamos o mapa do reencontro
traçado no coração,
caminho de volta a eles.
A morte, essa viajante incansável,
leva corpos, mas jamais aprisiona a essência,
que paira no ar, como as conchas na praia do tempo,
onde as ondas vêm e vão,
mas o amor –
ah, o amor –
esse resiste, intacto,
guardando em si o eco
de uma saudade eterna.