Reprise Sentimental
Gostaria de agradecer publicamente pelos comentários tão válidos e sinceros, creio que isso me encanta nesta comunidade: há uma troca verdadeira entre olhares de quem, de alguma forma, é encantado pela linguagem e pelo que ela é capaz. Desta vez, trago-lhes um dos poucos escritos que não importa quando e quanto eu o leia, sempre me deixo docemente levar por ele sem sequer colocar defeitos ou culpar-me com expectativas (o que é raro para um autocrítico). Baseado em um fato real após me recordar subitamente de um episódio ao acordar, apresento:
Reprise Sentimental
Alice,
Hoje, lembrei do cheiro de seu perfume
Os longos cachos dourados impregnava
Lembrança estranha de anos que ressurge
Num fim de sonho em imagens reativadas
Devoção doce, inocente por ser primeira
Aquela que sem parâmetro se fez inteira
Mesmo que talvez tenha sido
Vinda de peripécias do espírito
De quem após década a si olharia
Em versos, florir estações da vida
Sentimento que de tão bem-feito
Ao certo não sei se foi um invento
Como todos outros da mente borbulha
Criança, sua imaginação é sua fortuna
Que, por acaso de algo mais além de mim,
Permaneceu com leveza em minhas lentes
Paixões, mesmo tolas, são paixões
Uma das poucas que soube externar
E, apesar de não recíproca, já era bela
No anseio de querer sentir o visto
Em grandes telas, revistas e livros
Aprendizado sentimental
Quanto mais humano, mais divino
Posto à prova e em sal
Não me pergunte se valera a pena
Na passagem dos oito aos nove
Tempo em que se tem em posse
Um galinheiro repleto.
André Vaz de Campos M. Tourinho
06/05/20 - SSA