A SENHORA DO CACHIMBO
Dona Antônia fumava cachimbo.
Fumaça sem parar...
Não deixava apagar a brasa do fornilho...
O fornilho do inseparável cachimbo!
De manhã ela descia o morro
Para vir pedir mantimentos na casa dos meus pais.
Postava-se defronte ao fogão,
Sentada numa cadeira na cozinha
Da nossa casa grande, permanecendo ali horas a fio
Conversando e olhando minha mãe fazer o almoço,
Enquanto o meu pai, agropecuarista, trabalhava no campo.
E a senhora visitante sempre fumando sem parar!
Dona Antônia almoçava bem e vagarosamente,
Saboreando com gosto a comida
Que minha mãe lhe colocava num prato limpo.
Lembro-me até do seu modo de mastigar com gosto,
E o visível movimento das maxilas...
Sempre com o hábito invariável
De repuxar forçosamente os músculos
De sua boca e de seu pescoço.
E só depois, Dona Antônia ia embora para sua casa,
Levando consigo também
Um saco cheio de mantimentos
Que meus pais, altruístas e generosos, lhe davam,
Contendo arroz, feijão, farinha,
Goma de mandioca, milho, rapadura,
Café, açúcar, carnes, banha, leite, frutas...
O abarrotado e bojudo saco
Provia e alimentava a família carente
Da morena senhora do cachimbo.
E aquela senhora grande e forte se despedia
Por volta do meio da tarde...
E partia de volta pra sua casa, com o
Saco de mantimentos sobre sua cabeça.
E seguia alegre e feliz...
Às vezes, cantarolando...
Mas, impressionantemente,
Com o cachimbo em sua boca.
Era quase sempre às sextas-feiras.
E, assim, ela se alimentava,
E, contente, ia alimentando os seus familiares.
Todos nós gostávamos de Dona Antônia do Morro,
A estimada Senhora do Cachimbo.
Tempos que não voltam mais!