O ideal é um sapo
Imagens dos anos 90 no Rio de Janeiro
O ideal é sapo espatifado,
germe amassado.
Estapafúrdia tentativa de paz interna e cognição.
No globo a posse
do petróleo e bolsa-explosão
são prenúncios do apocalipse,
quarto selo:
fome, penúria, exclusão, quarentenas vindouras;
seus signos.
O ideal é o sapo esturricado,
ressequido no solo do estio.
No sertão, cavalos-vértebra,
mulheres-vestígio.
A fé na penitência,
filho na algibeira e farinha no olho.
O ideal é o sapo encantado,
boca fidalga, príncipes negros,
reinos condecorados.
No norte, no Bronx,
mortos nas quadras de basquete
são cestas de três baques.
O ideal é o sapo costurado,
religião do Mal,
mandingas,
efeitos contrários.
Vestimentas lívidas
no terreiro de Umberto Eco,
o medieval filho de Oxalá.
O ideal é o sapo marginalizado,
flanelinha tira remela de carros.
No Rio (demônio de pedra e mar),
mocinhas dançam funk
e dançam.
Moleques que cheiram pó
me cheiram ao não-amanhã.
Favelas,
enxurradas,
luz do morro,
foguetes,
branco e preto.
No trânsito,
o verde é tranco
e o vermelho quem tem?
Sangue, candelárias,
travecos na Lapa.
Boêmia de outrora,
solitários na passarela,
museu centenário,
o teatro no cerne,
Cinelândia,
barricadas e milicos,
comício e o crente
que berra um novo ideal de tragédias.