Ondina
Fabiane dormita na praia do Farol da Barra,
não vê as ondas rebentando no forte,
respingando nos canhões de metal.
Fabiane dormita da praia na Barra até a praia do Flamengo,
lá no longe,
até pra lá do Rio Vermelho de Amado.
Não sente o sal das raias da onda sobre o coral da Bahia antiga,
antiquíssimos naufrágios.
Não se aflige com o não chegar.
Fabiane talvez sonhe com amores perfeitos que eu, talvez, não pude dar...
O vento açoita seus cabelos morenos e seu vestido amarelo,
no terraço do hotel na Ondina,
na original manhã de um inverno azulíssimo da Bahia antiga.
Na vida: prato dos condimentos, fortes instigações.
Na vida: fartos fundamentos, provamos demais.
Erramos demais, enfastio de buscas.
Conchas na areia grossa da Bahia de todos, todos os Santos!
Fabiane olha agora, reta, a linha do mar.
Fabiane colhe agora, meta, a linha do tempo.
Inexorável.
Batuques na praça do Pelô, que eu, todo abismado,
voltei, voltei e voltei. Voltarei.
A cidadela alta acorda, libertada, o sentido de retornar.
Retomar.
As ladeiras no estampado colorido do caminho.
Igrejas, o dossel de muito ouro, o trono usurpado do imperador.
Fabiane agora sorri seu riso antagônico do Barroco baiano.
Fabiane detesta antagonismos.
Fabiane sempre foi o sorriso e o mote de toda noite:
bons sonhos, menina.
A Bahia foi, finda, um tempo de não despertar.