velhas coisas minhas

1.

Limpando uma

velha bacia

onde outrora,

na infância,

eu me banhava,

notei que o

passado

é algo que

nos agarramos

quando

nos carece

o futuro

2.

Limpava a velha

bacia porque

abrigava teias

de aranhas,

fósseis de futuras

mariposas,

e principalmente,

velhas coisas

minhas

que até eu

próprio

não lembrava

3.

Quando visualizei

e toquei

e lavei

algumas coisas,

as mesmas me

inundaram

de lembranças

e ganharam

novos

significados

4.

Digo com clareza

que esta bacia

mora na casa

da minha memória

e no país

da minha existência,

pois nela ouvi o

mundo girar

e vi

o mundo

passar:

uma década ou

mais

de histórias

escritas

e guardadas

em mim

5.

É estranho como

um objeto

nos preenche

e nos aquece ternamente

internamente

e a forma como

voltamos,

ainda que

por um breve

instante,

ao colo infantil

de nós mesmos:

para recuperar

a alegria que

perdemos

nos cálculos

complexos

e nas dúvidas

incompletas

da madureza:

às vezes

uma única sensação

anula toda

a necessidade

de uma explicação

científica

ou filosófica

acerca

do campo

que é

a vida

6.

É estranho como

tantas

coisas pequenas

compõem um

regresso tão íntimo

que por um

instante

param-se

todas as chagas

do pensamento:

é um regresso

doce

onde há um prazer

em desfazer-se

e recriar-se

a cada sorriso

dado

pelo tato

*

*

e por mais que o

tempo deteriore

o plástico

o ferro

a borracha

o cobre

o acrílico

o vidro

a madeira

e as superfície coloridas:

estas coisas sentidas:

serão eternas

em mim

7.

Hoje

descobri esse

tipo doce

de eternidade:

reviver

cada memória

reviver

cada lembrança

reviver

cada fragmento

da nossa

história

reviver

e viver

reviver

e viver

reviver

e viver

uma

e outra vez

para que nunca

tenhamos

de nos

despedir