O Canto da Mãe-da-Lua
Me sentei num grande alpendre
Num banco de baraúna,
Casa rica - Infortuna!
Coisa que o Sertão entende,
O fogão já não se ascende
D’uma lenha, “ajuremada”,
A noite se fez calada,
De “causo” mal explicado,
Não se fala mais de gado,
Não se ouve a bezerrada.
Penduro o chapéu num gancho,
Penei de lado um olhar,
Veio lágrimas de chorar
Quando vi que o velho rancho
Só restava algum garrancho,
Três forquilhas e um monturo,
Cacos d’um tijolo duro,
Durezas do tempo ingrato
Que cobra, nada barato
Os sonhos d’um vil futuro.
...Casarão de cumeeira,
De "frienta" harmonia
Janelões, sem alegria,
Sem valor d’uma fogueira...
-Lembro a outra!? - Seis esteiras,
Uma rede e um colchão
Espalhados pelo chão
Em dois vãos de pouco espaço
Mas, com calor d’um abraço
Aquecia o coração...
Foi-se os velhos, falecidos,
Foi-se os jovens, pelo mundo,
E d’um vago tão profundo
Foi-se tudo, dirimidos,
Pelos anos ressequidos
Restou-lhe a lembrança crua,
Erguendo a esperança nua
Num palácio para o lar,
Que só pôde acalorar
O canto da Mãe-da-lua ...