Se esta incontrolável saudade não doesse tanto
E tão breve não fosse a vida com sua solidão,
Certamente meus olhos não mais fotografassem
O vazio infindo que se instalou em meu coração
Desde o fatídico dia de nossa separação...!
Há décadas não cruzamos nossos olhares,
Parece que o tempo emperrou e nos puniu,
Imputando a pena da distância.
Mas este ato silencioso evocou o desespero
E avivou fortuitas lembranças que doem,
Machucam e emudecem todos os sentimentos,
irradiando um mar de sofreguidão.
Ao longo dos anos agregamos dissabores
que se convertem num turbilhão de derrocadas,
Feito céu desbotado tingido de soda cáustica
Que erradicam todas as visões do passado.
Desvivemos a paz e abraçamos o rancor,
Anestesiados pela dor e utopia chegamos a acreditar
Que a borracha da vida apagasse os sentimentos
Mas o tempo passou sem deletar nosso amor.
Ao som do agogô saudei oxum,
O vento que assovia enfim mostrou meu guia
Que liberou a irradiação da energia que faltava.
Cantei Xirê girando inverso no tempo,
Os orixás estressados choraram nossa desunião.
Naquele momento conclui pesaroso
Que daquela união somente eu havia amado em vão.
Durante décadas fiz-me solitário e cético
Calcificando a rotina dependurada na ausência...
Agora após tantos anos de desencontros,
Estamos frente a frente e boquiabertos
Chega a ser inacreditável,
Pois nosso amor ainda perdura com ímpeto
E nossos sentimentos estão em efervescência.
Mas estamos mudos, as palavras estagnadas...
Nos perdemos no tempo,
perdemos o momento da passagem desta vida.
Agora, que nossas almas se reconheceram,
Surfamos renovados em nova dimensão,
Nos vemos através da irradiação da energia
Que emana dos caboclos dos orixás,
Sentimos o abraço que jamais aconteceu.
Provamos do beijo que sempre foi negado
E na sintonia mágica, encurtamos o elo.
Fotografamos o momento mágico
Tatuando em nossas almas
A indelével marca do amor eterno.
Assim, o tempo passou acontecendo...
As vezes em nossa ignorância de reles mortais,
Quando o manto negro da desilusão
Abraça a alma e sacode o coração,
Pensamos que a esperança é a primeira que morre
Trazendo à tona fato ensejador de sofrimento
Onde a mente desnuda de qualquer consciência
Aceita passivamente encerrar a estadia,
Tornando a morte como um detalhe do tempo.
Mas enfim, não é o fim,
Em cada novo olhar um recomeço,
Olhos murchos, corpo dissecado

e o irrefreavel desejo que zune,

Em busca da intercepcao da vida,
Que e uma dadiva imposta.
Salve OXUM, onde o amor faz moradia!!
O tempo passou acrescendo saudade.
Da singela lágrima deslizando pela face,
Fez-se uma vida condenada ao pranto.
Nada restou para ser comentado,
Apenas a conversa inacabada
Que ainda ressoa pelo ar a me tragar.
São segredos guardados na alma
Onde nas noites de luar
andávamos abraçados chutando latinhas
descortinando o pudor nas ruas
desenhando setas nas arvores floridas
sem imaginarmos que a vida seria dolorida
Após tantos dissabores,
Fiz-me cético ao discordar de mim.
Cavei meu próprio abismo,
E nele repousei deitado em espinhos.
Tornei-me intolerante ao espelho
E inimigo de mim mesmo.
Não me concedi um abraço
Porque eu não me deixava existir.
tentei, mas não consegui me alcançar.
Minha alma apiedada
Não relutou e se desprendeu do corpo,
Não esperava um milagre,
Naquele momento,
Morrer era apenas um detalhe.
Nos segundos que antecederam o eclipse total,
Presenciei a estadia fenecida.
Mas senti-me pequenino
Quando avistei a  imagem
De Olorum que move nosso destino.




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Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 13/07/2019
Reeditado em 22/04/2023
Código do texto: T6695032
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