A Árvore E O Pássaro
Tu que és pássaro ousado
Atreveu-se a pousar em árvore desconhecida
E Sobre um galho bem encorpado
Encontrou folha de ainda pouco nascida
Durante algum tempo
Entre o partir e o voltar
Sempre achava assento
Naquela bruta haste para ficar
A planta sendo, assim, inocente
Permitiu a ave lhe habitar
Mesmo não sendo tão presente
Era o hóspede que não podia faltar
Na tua ausência demorada
Clamava por qualquer vento
Que fizesse chegada
Para lhe dar movimento
Com raiz presa ao chão
Pouco a pobre podia aprontar
Apontava tuas folhas em toda direção
Fossem olhos a lhe procurar
Quando, enfim, o pardal aparecia
Todo o tronco, ainda que parado
Tudo nele, por dentro, mexia
Feito trânsito movimentado
Não é feito para o canto
Nem tão belas penas tem
Mas no amor está o encanto
Que fez da árvore refém
Ingênua, não havia de saber
Que passarinho é bicho esperto
E gosta mesmo é de viver
Em qualquer canto aberto
Aquela não era de ser árvore para morar
Ali vinha apenas se divertir
Já tinha outra para habitar
Ali só queria curtir
O pássaro convencido
Percebeu a paixão que nela causou
Bateu asas enaltecido
E nunca mais retornou
Já passou tanta primavera
E a saudade permanece
Ela está sempre há espera
Dessa ave que só uma vez acontece
Hoje a árvore sonha pássaros
Lembrando daquele pardal
Queria ela poder dar passos
Ou bater asas como o tal