Meu poeta!
Naquela noite
Caiu um aguaceiro
De inundar o mundo inteiro.
Me lembro
Era ainda janeiro.
Mui triste vinha o andadeiro.
Vinha sem viço, sem Sancho.
E nunca me esqueço, não, nunca
Do seu cambalear altaneiro.
Me abracei àquela fonte da vida
E fomos lutar as mil guerras vencidas.
Ouvi sobre Argos, passei pelas Mil e uma noites.
Argumentei sobre um certo Deus
Que deixa crianças perdidas.
Ele disse: não se iluda
Não há Deuses olhando por elas.
E foi assim, com ele tonto, abraçada
Foi assim sem trigais ou arrebóis
Foi mesmo assim que senti
Estava próximo o fim.
Eu sabia, e sempre soube
Que logo ele partiria
Nenhum legado, nenhum sol
O poeta se foi há tantos anos.
E, na solidão atávica.
Na solidão dos que ficam
Plantei meu trigo.
Arei meu chão
Mas com ele ficou
O meu arrebol...
Dorothy Carvalho.
Para meu pai..
Eronides Carvalho...O Poeta...
Goiânia, 02.02.2019