Platiedras Cálidas
Descemos a trilha calma
Do silêncio que lavava a alma
As águas batiam nas pedras
Corriam as formigas e platiedras
Despi-me para o banho
Dessa forma, expus o busto castanho
Por medo da água gélida
Mantive a prevenção cálida
Na margem fiquei
Abaixei a fronte e avistei
O poço escuro
Perguntei, em uma previsão do futuro:
— Aqui é fundo?
E em um falar meditabundo:
— Não — você me respondeu
Guardei o que me prometeu
Mesmo assim, por garantia
Tive um gesto de teimosia
Na borda fiquei
Decretando a minha lei
Entediamo-nos, resolvemos subir
Escalamos nas pedras rentes
Com as dores nas articulações estava difícil coexistir
Buscando palpites coerentes
Virei meu rosto e vi um percurso
Tive uma alternativa para seu discurso:
—Ali não é uma trilha?
A água escorria da vasilha
— É, mas está fechada — respondera
Decepcionado, fingi que não quisera
Ao chegar ao topo, à recompensa
A qual sempre tive crença
Avistamos o cânion e a quebra da água
Eu não imaginava a minha mágoa
— Vamos descer — disse-me
Com o cuidado para não estabacar-me
Descida mais sofrida que a subida,
Mas findou
Em contrapartida
Em nossas cabeças uma gralha sobrevoou
E disse-me em pachorra descoberta:
— Então, amigo, a trilha estava aberta
Controlei o rancor para não voar em ti.