Memórias

Fechei meus olhos

E por uma fração de segundos

Acreditei que tudo havia acabado

Que tudo aquilo era apenas ilusão

Não sei o que deveria estar sentindo

Nem de onde vêm esses sons de lamentos

Vozes ecoando como trovoadas

Cheias de dores, ressentimentos e arrependimentos

Lembro-me do teu sorriso sereno

Tua pele morena em contraste ao meu

O sentimento eclodindo de nós

Um casal que emanava como néctar

De como meu lado artista

Arrancavam lágrimas e sorrisos das faces

Cansadas das rotinas desgastantes que viviam

Destruindo teus sonhos e beirando a solidão

Levava alegrias e esperanças

Aos que estavam a questão de tempo de partir

De como eram importante para mim

Mostrando-me um motivo para existir

Meus olhos continuam fechados

Sendo guiados pelos sons

Que aos poucos não me deixam distinguir

Os números vão aumentando lentamente

Imagens ofuscantes vão surgindo

Em meus olhos fechados. Louco

Fotos de pessoas que nunca vi

Mas que eu sei que são partes de mim

Vejo você na platéia

A contemplar meu espetáculo

Puxo uma rosa do meu bolso e ele desabrocha

Junto ao teus olhos ao encontrar os meus

O som bem lá no fundo

Ecoava que a felicidade de alguém nascera

E por um breve minuto ao queria piscar os olhos

Mas as lágrimas brilharam e eu fechei novamente.

Canto. Amor. Filhos. Luzes

Natal. Velório, Choro. Você

Escola. Teatro. Circo. Casamento.

Hospital. Férias. Cachorro. Eu

As imagens vão aumentando

Sons. Lamentos. Angustia

Só quero que parem e me deixem em silencio

Que me permitam entender o que tudo significa

Lembro de você na cama

Os cabelos tão brancos quantos os meus

Seus olhos a rodar pelo quarto e novamente

Encontraram os meus, os meus aos teus, dos nossos filhos

Fecho teus olhos de rosas brilhantes

Teus filhos a cantar uma canção de ninar

Meus lábios tremendo a ir te beijar

Meus olhos fechando ao te tocar

Desperto, afobado, louco.

Loucura, sim. É o que explicaria

O fato de eu estar me vendo ali deitado

Vislumbrando o passado.

Cheguei ao mundo cantando com lágrimas

Sentindo pela primeira vez o calor de um abraço

Aconchegante, confortável. É o amor materno

Fortalecendo o laço entre mim e ela

Um menino tinhoso, curioso

Abocanhando as descobertas feitas

Nas percepções dos meus sentidos

Visão, paladar, olfato, audição e tato

Garoto inocente arranhando o joelho

Numa rápida brincadeira de domingo

Emburrado em um canto

Por não poder mais brincar com os amigos

Jovem trancado no quarto

Como se os outros não soubesse

O que estava fazendo

Em meio ao inicio da puberdade

Adolescente recheado de revolta

Querendo ser livre, voar sem ter asas

Idealista, incompreendido, Incoerente

Ouvindo musica na praça sonhando em ser artista.

Não queres voltar para casa

Não queres lembrar-se da vida

Queria ser independente, não aceitar que sua mãe segure em teus braços e sai em disparada pela praça

Grito. Correria. Calor. Escuridão.

E o relógio em teu pulso parou.

Fechei meus olhos

E por uma fração de segundos

Acreditei que tudo havia acabado

Que tudo aquilo era apenas ilusão

Ilusão... De alguém desesperado

Com medo de tudo ter acabado

Sinto o tempo ser interrompido

Como o fone esmagado sem tocar mais musica

E tudo para mim começa a fazer sentido

As pessoas, todos aqueles que eu iria confortar

Com o dom que um dia iria descobrir

E a mim ficou o arrependimento

De não te encontrar, de deixar você ir

De nunca desabrochar a rosa em teus olhos

Porque dei o passo errado

Você agora esta aqui diante de mim, sem me ver

Sentindo a perda

Sem saber

Que eu seria teu futuro

Se eu não tivesse saído da praça

Não estaria aqui a ver meu corpo deitado

Não estaria tentando voltar a vida

Para que as visões do futuro.

Um dia fosse tais como a de menino

Memórias do passado de alguém que viveu

Lucas Yagami
Enviado por Lucas Yagami em 04/08/2018
Código do texto: T6409172
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.