CHUVA MIÚDA
A chuva fina molhou o meu mundo ...
O mundo que eu ergo, orgulhosamente,
embora deformado agora pelos excessos.
A chuva molhou meus pés;
pés antigamente delicados,
de solas aveludadas.
A chuva molhou minhas pernas
que foram torneadas
e hoje estão visivelmente volumosas,
meio disformes
e marcadas pela vaidade das depilações.
A chuva molhou meu tronco,
que, com o passar do tempo se alargou,
se desenvolveu em todas as dimensões,
sofrendo não ainda a deterioração do tempo,
mas obedecendo as inflações da idade;
tomou o porte das prestações a longo prazo:
expandiu-se, degenerou-se,
multiplicando as carnes, antes em desfalque.
A chuva molhou a minha cabeça,
que, feita para pensar,
pensa que não sabe o que pensar,
o que deseja pensar do mundo,
das coisas, das pessoas,
da vida ...
A chuva continuou pingando ...
Pingando ... pingando ... pingando ...
R e s p i n g a n d o...
e inocentemente molhando o meu mundo,
o meu eu...
Maria Nascimento Santos Carvalho
Site : www.marianascimento.net