CHUVA MIÚDA

A chuva fina molhou o meu mundo ...

O mundo que eu ergo, orgulhosamente,

embora deformado agora pelos excessos.

A chuva molhou meus pés;

pés antigamente delicados,

de solas aveludadas.

A chuva molhou minhas pernas

que foram torneadas

e hoje estão visivelmente volumosas,

meio disformes

e marcadas pela vaidade das depilações.

A chuva molhou meu tronco,

que, com o passar do tempo se alargou,

se desenvolveu em todas as dimensões,

sofrendo não ainda a deterioração do tempo,

mas obedecendo as inflações da idade;

tomou o porte das prestações a longo prazo:

expandiu-se, degenerou-se,

multiplicando as carnes, antes em desfalque.

A chuva molhou a minha cabeça,

que, feita para pensar,

pensa que não sabe o que pensar,

o que deseja pensar do mundo,

das coisas, das pessoas,

da vida ...

A chuva continuou pingando ...

Pingando ... pingando ... pingando ...

R e s p i n g a n d o...

e inocentemente molhando o meu mundo,

o meu eu...

Maria Nascimento Santos Carvalho

Site : www.marianascimento.net

Maria Nascimento
Enviado por Maria Nascimento em 22/08/2007
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