BALADA DO VENTO
Vento que passa voando, arrepiando a crista do morro.
Levanta o pó da terra, dobra o ramo tenro e mole
e vai se perdendo na serra. ,
Vento que fecha porteira e derruba o balde do poço,
bate à janela com força querendo entrar na cozinha.
Vento que apaga o fogo do fogão da cozinheira,
esfria o doce já feito, levanta a toalha da mesa,
buliçoso e travesso.
Vento malicioso, levanta a saia da moça,
despenteia seus cabelos, faz o moço delirar
da janela do escritório...
Vento que mistura papéis, faz o lápis ir ao chão.
Ah! vento que faz sonhar!
A velhinha se arrepia e se enrodilha no xale.
A mãe chama o menino para lhe por o casaco, apesar da rebeldia.
Vento que mexe com tudo, a bulir com toda gente,
essa gente que nem sente que o vento é muito amigo,
mesmo quando à noite passa
gemendo e metendo medo
às mocinhas melindrosas, às senhoras solitárias,
às crianças e babás...
Ah! vento que me abraça quando sozinha me encontro,
quando ando pelas ruas descampadas do meu bairro;
que seca a roupa na corda, apaga a chama do isqueiro
quando à janela debruço a fumar o meu cigarro.
(não fumo mais)
Vento da manhãzinha que respiro com doçura,
quando afastando a cortina vem me dizer bom dia,
esparramando no quarto
o cheiro do campo longe, dos currais da minha terra,
do leite que é tirado de toda vaca malhada
que a saudade faz lembrar...
Vento da madrugada que esfria meu corpo quente
e solitário a descansar.
Vento que traz de longe lembranças da minha infância,
consolando e mimando.
...Entrou areia nos olhos, por isso estou chorando....
Não é nada, isso passa, o vento me fez chorar...