Cegos

Eu não compreendo o que se passa

Quando percebo

que pequenas coisas que me emocionam

Para a imensa maioria

Não tem e nunca terão

A mínima importância

A chuva durante uma tarde de verão

A nova versão de uma canção antiga

Uma pequena vitória

de qualquer pessoa amiga

O mendigo que sorri para você

Agradecendo a graça dividida

A tristeza inexplicável que eu sinto

Quando termino de ler um bom livro

A insustentável sensação

de ser e não ser livre

A vontade de saber voar

Contrastando com o medo de altura

A doçura do sorriso

daquela pessoa desconhecida

Que posou despercebida

Numa foto antiga da família

A saudade de amigos ausentes

O gosto de pitanga

Que a memória gustativa

Traz à boca

Eu posso sentí-las nos dentes

As plantinhas que nasciam

Nos cantos dos jardins

Nas escolas da minha infância

Incríveis coisas invisíveis

Que enxergava e ainda enxergo

Não é possível que os demais

estejam cegos

EdsonRicardoPaiva