Descertifiquei-me
Certifico-me que perdi todos meus certificados,
Certifiquei-me pisando pelos tijolos das calçadas,
onde criança caminhei uns bocados.
Deveria tê-los salvos num arquivo além da memória,
fixando ângulos que tanto olhei compondo a minha vã história.
Mas sequer um déjà vu me socorreu,
Deixando em branco a menina que fui eu.
Já não há cheiros das seivas dos matos, nem dos manacás,
Nem dos doces de aboboras, nem dos bolos de fubá.
Restam o gosto cerebral da goiaba madura,
alguns lampejos de pirilampos pela noite escura
e uns muros pichados contra a ditadura.
Descertifiquei-me, mas para que serviriam estes certificados?
Para me lembrar sempre que o tempo é feito de momentos acabados,
Que nunca morrem.
Sonham muito, mas não dormem.
13/05/14 – M.O